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Gêneses do Rock Brasileiro: A Brotolândia

Em 1959, a gravadora Young, especializada em músicas em inglês cantadas por intérpretes brasileiros. O elenco da Young era estelar: Regiany, Nick Savoia, Demétrius, Hamilton Di Giorgio, Danny Dallas e o cantor guitarrista Gato (José Provetti), que mais tarde seria um dos melhores guitarristas solistas do Brasil. Havia também os conjuntos The Jesters Tigers (que acompanhava os grupos da casa), The Rebels, liderado pelo cantor Zezinho, que se tornaria anos mais tarde o famoso Prini Lorez e o principal nome da gravadora, The Avalons, um dos pioneiros no Rock instrumental. Além dos rockers já citados, havia muitos outros artistas contratados pela Young.

O ano corria solto e os rockers continuavam seguindo sua trajetória, ao mesmo tem em que iam despontando novos nomes no Rock brasileiro:

  • Erasmo Esteves (que começou a usar o sobrenome Carlos em homenagem ao parceiro Roberto e o empresário Carlos Imperial) e os remanescentes dos Sputniks Arlênio Silva, China e Edson Trindade formaram o grupo The Snakes.
  • Dois futuros grandes humoristas fizeram sua estreia como cantores de Rock: Moacir Franco, usando o pseudônimo de Billy Fontana e Paulo Silvino, neto do radialista Silvino Neto, na pele de Dixon Savanah (nome sugerido por Chacrinha).
  • Sérgio Reis, cantor que fez muito sucesso na segunda metade da década de 60, também começou a cantar nessa época, usando o nome de Johnny Johnson
  • O conhecido compositor Hervê Cordovil anunciou o lançamento de seu filho Ronaldo, que se tornou mais conhecido como Ronnie Cord. George Freedman, cantor nascido na Alemanha lançou o disco “Hey Little Baby”/ “Leninha” e nos anos seguintes seria uma figura de frente do Rock.
  • O cantor Albert Pavão foi convidado a participar der um programa de Rock na emissora de TV local em Bauru, SP, onde cantou “Tutti Frutti” de Elvis Presley.
  • Os Golden Boys emplacavam outro sucesso com “Personality” (original de Lloyd Price). Fizeram, inclusive, uma aparição, cantando “Meu Romance com Laura”, na comédia Cala boca, Etelvina, estrelada por Dercy Gonçalves. 
  • O já conhecido Carlos Gonzaga continuava sua trilha de sucesso com versões de Fred Jorge para músicas de Neil Sedaka e Paul Anka. Falando em Sedaka, ele esteve no Brasil e encontrou os irmãos Campelo, com quem fez um memorável show, que contou com o a acompanhamento musical do professor Theotônio Pavão.

Em 1960, ano da inauguração de Brasília, a nova capital do País, último ano do mandato de JK, chamado “Presidente Bossa Nova”, ano em que o lutador de boxe Eder Jofre conquistou o título mundial dos pesos galo, grande façanha desse esporte no País. Também ano em que Maria Esther Bueno conquistava pela segunda vez o Torneio de Wimbledon (um feito inédito) e em que o Bahia conquistou o primeiro título do Campeonato Brasileiro, então chamado Torneio Roberto Gomes Pedrosa, o Rock estava plenamente consolidado em solo brasileiro e começaram a aparecer publicações especializadas como A Revista do Rock, que nasceu da necessidade que os jovens tinham em ter letras de música, bem como saber notícias de seus ídolos.

Foi nesse ano que Celly Campelo gravou outro megassucesso, Banho de Lua (versão de Fred Jorge para Tintarella de Luna) e se tornou uma grande celebridade da música e era chamada de “Namoradinha do Brasil”. Foi a primeira vez que aconteceu o lançamento de produtos tendo um artista como tema, como a boneca Celly da Trol e o bombom Cupido da Lacta. Cely ainda gravou comerciais para a Monark (bicicletas) e para o achocolatado Toddy. Paralelamente, Sérgio Murilo estourou com os sucessos “Marcianita” e “Broto Legal” e era a figura masculina da vez na cena roqueira do Rio de Janeiro.

Fontes:

Ensaio: Os Primórdios do Rock no Brasil por Andre de Oliveira

Rock Brasileiro 1955-65: trajetórias, personagens e discografia por Albert Pavão

os irmão Cely e Tony Campelo ecabeçando a Brotolândia crédito: http://t3.gstatic.com/images?q=tbn:ANd9GcTfvmrupKdvFnuYcbO2Gi8W6hplxf4ie8m0kHGLcPgXDinAqPmr

os irmãos Cely e Tony Campelo encabeçando a Brotolândia
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Gêneses do Rock Brasileiro: a primeira cena Rocker do Brasil

Links para os capítulos anteriores: Parte 1, Parte 2, Parte 3

Um dos momentos mais importantes da Primeira Onda no Brasil aconteceu em março de 1958, quando o acordeonista e maestro Mário Gennari Filho entregou a Tony Campelo, crooner do conjunto Ritmos OK, de Taubaté (cidade do interior de São Paulo), duas canções para serem gravadas. “Forgive Me” e “Handsome Boy”, seriam inicialmente interpretadas pela cantora-compositora Celeste Novais. Tony não viu problemas em cantar a primeira música, mas quanto à segunda (“rapaz charmoso”), não pegava bem ser cantada por um homem. Foi aí que teve a ideia de chamar a irmã Célia, que teve o nome mudado para Celly, para interpretá-la. O compacto dos irmãos Campelo foi um enorme sucesso e os jovens se apaixonaram pela voz doce e singela de Celly.

A onda dos “covers”, músicas originais em inglês gravadas por cantores brasileiros, chegava ao seu apogeu:

Ainda nesse ano, surgem os cariocas Golden Boys (tirado de Roy Hamilton, o golden boy?) com Wake up little Susie (Copacabana) e Lana Bittencourt segue sua trilha de sucessos com Love me forever (também cantado por Dolores Duran) e outros calypsos rock, a nova moda. Aliás, segundo dizem, Lana chegou a entrar nas “100 mais” da revista americana “Cash Box” nos Estados Unidos, com Little Darling. Mas, o sucesso de Lana e outros intérpretes impedia o lan­çamento original entre nós. O mesmo acontecia com o grupo vocal The Playings, uma invenção do produtor José Scatena (Titulares do Ritmo, famoso grupo vocal de SP, mais as cantoras de estúdio, irmãs Gradilone), então dono da gravadora e estúdio RGE que, com a gravação de sucessos do hit-parade americano como Lollipop e Banana Split, impediu a entrada dos hits originais. Até o tradicio­nal Conjunto Farroupilha frequentou o gênero, com a gravação de Mr. Lee. (PAVÃO, 2011. p. 38). 

O Club do Rock de Carlos Imperial ia de vento em popa e o destaque era um jovem de apenas 17 anos chamado Sérgio Murilo, que viria a despontar como grande cantor no ano seguinte. Betinho e Seu Conjunto emplacavam mais um sucesso, “Aguenta Rojão”. No segundo semestre, o Pai do Rock, Bill Haley (junto com Seus Cometas), veio ao Brasil pela primeira vez e fez um show antológico, televisionado pela TV Record. Ficou impressionado com a recepção que teve, pois não imaginava ser tão popular por aqui. O professor de violão Theotônio Pavão tinha muitos alunos que de quando em quando se reuniam para fazer festas, onde mostravam seus atributos artísticos. Foi durante algumas desses happenings que o jovem cantor e guitarrista Albert Pavão, filho de Theotônio, começou a aparecer, imitando seu ídolo Elvis Presley.

Em 1959, Celly Campello gravou seu mais retumbante sucesso, “Estúpido Cupido”, versão do clássico de Neil Sedaka, “Stupid Cupid” que vendeu ceca de 100 mil exemplares e disputou o primeiro lugares nas paradas como pesos pesados como Elvis Presley, Paul Anka e o próprio Sedaka. A música havia sido erroneamente gravada no lado B de “The Secret”, ao invés do costumeiro lado A. O êxito foi tanto que Celly e o irmão Tony entraram em evidência junto aos roqueiros paulistas. Celly emendou outros sucessos como “Túnel do Amor”, “Just Young”, “Tammy” e “Lacinhos Cor de Rosa”. Os irmãos Campelo estrearam o primeiro programa de Rock da televisão brasileira, Tony e Celly em Hi-Fi pela TV Record, onde recebiam as emergentes estrelas da época. A Record, aliás, sempre esteve envolvida na divulgação do Rock and Roll, trazendo grandes atrações internacionais como Johnny Ray, Johnny Restivo, Frankie Avalon, além de Bill Haley. Até o fim de ano, todas as emissoras de TV do Brasil tinham seus programas para jovens.

No Rio de Janeiro, Carlos Imperial transformou seu o Club do Rock num programa apresentado pela TV Tupi carioca. Foi nesse programa que despontou para o sucesso seu pupilo Sérgio Murilo. Outra das descobertas de Imperial foi o conjunto Sputniks de Roberto Carlos e Tim Maia. Todavia, o produtor se interessou mais no primeiro, de quem se tornou protetor e empresário. Tim Maia foi então para os EUA e decretou o fim dos Sputniks. Foi nessa época que Roberto foi apresentado ao seu futuro parceiro Erasmo Esteves.

Roberto e Erasmo já se conheciam de vista desde o final de 1957, quando Roberto Carlos passou a se encontrar com o pessoal que frequentava o Bar Divino. Mas ali os dois não chegaram a travar maiores contatos, eram encontros esporádicos, rápidos; às vezes, quando um chegava, o outro já estava saindo. Por insistência de sua mãe, no início de 1958 Erasmo foi também estudar datilografia no Colégio Ultra, na Tijuca,onde Roberto Carlos àquela altura estava cursando o supletivo. Os dois se esbarravam pelos corredores do colégio, mas ali também não chegaram a ter uma apresentação formal. Isto só aconteceu mesmo em abril de 1958,quando Roberto Carlos precisou da letra de Hound dog. – “Roberto, este é o Erasmo, o cara que sabe tudo de Elvis.” Foi com essas palavras que Arlênio Lívio colocou em sintonia a dupla Roberto e Erasmo. “Eu já conheço você da televisão”, afirmou Erasmo, deixando Roberto feliz ao ser reconhecido como artista. E de fato, além de se esbarrarem ali pela Tijuca, Erasmo já tinha visto Roberto Carlos cantar no Clube do Rock, quando Carlos Imperial o anunciava como “o Elvis Presley Brasileiro”.(ARAÚJO, 2006. p. 51).

Sob a tutela de Imperial, o futuro Rei da Juventude gravou seu primeiro compacto, não um Rock mas um samba, “Joãozinho e Maria”.

Fontes: 

Os Primórdios do Rock no Brasil por Andre de Oliveira

Rock Brasileiro 1955-65: trajetórias, personagens e discografia por Albert Pavão

Roberto Carlos em Detalhes por Paulo César de Araújo

The Sputniks: o início de duas grandes feras da MPB: Tim Maia e Roberto Carlos (o 1º e o 4º da esq. p/ dir.) crédito: http://4.bp.blogspot.com/-wiclFmNn4c4/TaIE-AMX4tI/AAAAAAAAf9Q/mFzRAGy43Pk/s320/sputiniks.jpg

The Sputniks: o início de duas grandes feras da MPB: Tim Maia e Roberto Carlos (o 1º e o 4º da esq. p/ dir.)
crédito: http://4.bp.blogspot.com/-wiclFmNn4c4/TaIE-AMX4tI/AAAAAAAAf9Q/mFzRAGy43Pk/s320/sputiniks.jpg

 

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Gêneses do Rock Brasileiro: Primeiras manifestações locais

Para não perder o “fio da meada”, leia os posts anteriores aqui e aqui.

Em 1957, alguns compositores brasileiros começaram a se acostumar com o ritmo norte-americano e um deles, Miguel Gustavo escreveu “Rock and Roll em Copacabana”, gravado e cantado por Coby Dijon (Cauby Peixoto), sendo o primeiro Rock 100% brasileiro. Na esteira vieram algumas versões de originais norte-americanos como Até Logo, Jacaré” (See You Later Alligator”), de Júlio Nagib, cantado por Agostinho dos Santos. Até o conhecido autor de sambas e marchas Assis Valente compôs um Rock, que foi cantado por Grande Otelo num filme. O cantor Carlos Gonzaga, conhecido por interpretar boleros e guarânias se rendeu ao Rock, cantando Meu Fingimento”, versão de Haroldo Barbosa para The Great Pretender” do grupo vocal The Platters. Gonzaga se tornaria um dos expoentes da Primeira Onda do Rock Brasileiro, que entraria em vigor no ano seguinte.

O cantor e guitarrista Betinho se notabilizou por ter formado a primeira banda de Rock do país, gravando Enrolando o Rock, música que foi usada no filme “Absolutamente Certo”, dirigido por Anselmo Duarte. Numa das cenas mais antológicas, Betinho e Seu Conjunto interpretam sua música enquanto casais dançavam freneticamente. O cinema nacional começava a se render ao Rock and Roll. No Rio de Janeiro, o produtor e empresário Carlos Imperial criava o Club do Rock, formado por cantores, dançarinos e aficcionados que fez uma aparição na chanchada da Atlântida De Vento em Popa”, filme onde o impagável Oscarito ataca de Alves Prestes”, uma antológica imitação de Elvis Presley. Imperial conseguiria levar a ideia para um programa de rádio que faria muito sucesso em 1958.

Um dos problemas enfrentados pela indústria fonográfica nacional era a falta de representatividade de gravadoras estrangeiras. O jeito foi importar sucessos feitos nos EUA e na Europa para serem interpretados por artistas nacionais (os famosos covers”). Um dos exemplos dessa tendência foi a cantora Lana Bittencourt, que gravou Little Darling, sucesso do grupo vocal The Diamonds. O saxofonista Bolão e seu conjunto Rockettes, se tornou especialista nesse estilo. Ainda não havia teen idols, sendo os Rocks sempre interpretados por cantores da chamada Velha Guarda. Mas esse ânimo inicial foi esfriando e esses veteranos começaram a deixar o Rock de lado.

Tudo conspirava a favor do Brasil no ano de 1958. Vivíamos ainda sob os auspícios da gestão de Juscelino Kubitschek, o Brasil ganhava sua primeira Copa do Mundo nos campos da Suécia, fazendo surgir um novo ídolo do futebol, Edson Arantes do Nascimento ou Pelé. A Bossa Nova surgia a partir de uma sessão de gravação que contou com o compositor e pianista Tom Jobim, seu parceiro Vinícius de Morais e o violonista e cantor João Gilberto para a gravação do disco Chega de Saudade”.

O Rock brasileiro começava a sair das sombras, a partir da inspiração de músicos que assistiram ao filme Ao Balanço das Horas e que começaram a formar conjuntos musicais. É o caso de The Jordans, grupo que surgiu na Zona Leste de São Paulo e que seria um dos principais nomes do Rock primevo. Ao mesmo tempo, no Rio de Janeiro, surgia a Turma do Matoso, um bando de jovens aficcionados em Elvis Presley e no Rock and Roll que se reuniam para ver filmes, namorar, tocar e cantar.  Segundo Paulo César de Araújo escreveu em seu livro “Roberto Carlos em Detalhes”:

“O pessoal se reunia então em frente ao Bar Divino, na esquina da Rua do Matoso com Haddock Lobo, próximo ao Cinema Madri e ao Instituto Lafayette. Espécie de Memphis do rock nacional, aquela esquina da Tijuca atraía garotos como Tim Maia, Erasmo Carlos, Jorge Ben (que nos anos 90 mudou o nome para Jorge Benjor), Lafayette, Wilson Simonal,Arlênio Lívio, Luiz Ayrão, futuros Blue Caps como Renato e Paulo César Barros, futuros Fevers como Luiz Carlos e Liebert Ferreira… Raul Seixas não andava por ali porque morava na Bahia, mas logo, logo alguém que vivia mais perto, um capixaba chamado Roberto Carlos, estaria se enturmando naquele clube da esquina carioca – ou quase americano – ARAÚJO. Paulo César de. Roberto Carlos em detalhes. p. 51. Versão digital. São Paulo: Planeta, 2006. 

Carlos Gonzaga, que havia tomado gosto pelo Rock no ano anterior, gravou seu maior sucesso, Diana (versão da original homônima composta por Paul Anka).Essa gravação lançou um versionista que se tornaria o principal do nosso rock: Fred Jorge.

Fontes:

Ensaio: Os Primórdios do Rock no Brasil por Andre de Oliveira

Rock Brasileiro 1955-65: trajetórias, personagens e discografia por Albert Pavão

Betinho e Seu Conjunto, a primeira banda de Rock do Brasil

Betinho e Seu Conjunto, a primeira banda de Rock do Brasil

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Gêneses do Rock Brasileiro: O Rock chega ao Brasil

Em 1955, o Brasil vivia uma época de prosperidade como nunca antes em sua história, no décimo aniversário do fim da Segunda Guerra Mundial (1939-1945) e do famigerado Estado Novo (1937-1945), um período ditatorial que assolou o país durante quase uma década. A escolha de Eurico Gaspar Dutra, como o primeiro presidente eleito pelo voto popular desde 1930 inaugurava um período de democracia e esperança. Nas eleições seguintes, Getúlio Vargas, um dos artífices do Estado Novo, foi ironicamente eleito pelo voto popular, mas acabou dando cabo da própria vida no ano anterior, após uma crise política que abalou seu mandato. Em seguida, Veio Juscelino Kubitschek que quase não assumiu por causa de um golpe que acabou sendo desbaratado. A Capital Federal era a cidade do Rio de Janeiro e a população do País girava em torno de 52 milhões de habitantes (dados de 1950). No futebol, a sociedade brasileira ainda se recuperava da derrota na final da Copa do Mundo de 1950, realizada no Brasil e do fiasco da Seleção na Copa de 1954 na Suíça. Segundo o cronista Nelson Rodrigues, vivíamos intensamente o “complexo de cachorro vira-latas”.

Ao mesmo tempo em que os jovens brasileiros assistiam ao filme “Sementes da Violência” pela primeira vez, o tema principal da película era gravado por um intérprete brasileiro. A gravadora Continental procurou em seu cast algum artista que soubesse cantar em inglês. Nora Ney, um dos principais nomes do samba-canção, também conhecido como “dor de cotovelo” era a única com esse requisito e então em novembro daquele ano, era lançado o compacto “Rock Atound the Clock” / “Ciuminho Grande”, sendo o primeiro disco de Rock gravado por um brasileiro. Se bem que não era chamado propriamente de Rock, sendo até categorizado como Fox-trot. Segundo a Revista do Rádio, o disco alcançou os primeiros lugares em vendas no país. No mês seguinte, a RCA Victor lançou uma versão em português chamada “Ronda das Horas”, cantada por Heleninha Silveira que não teve muita repercussão. No começo do ano seguinte, a cantora Marisa Gata Mansa regravou a versão em inglês.

Em 1956, ano em que começaram as obras da nova capital farderal no Planalto Central, o êxito inicial do Rock and Roll não foi suficiente para atrair novos intérpretes. Poucos cantores brasileiros se prontificaram a cantar o novo estilo, como o famoso cantor Cauby Peixoto, que era, àquela época um dos mais populares artistas do País. Cauby sentiu-se atraído pelo Rock e foi para os EUA, onde assumiu o nome de Ron Coby (depois Coby Dijon), cantando em inglês. Ele participou do filme Jamboree e até foi convidado para começar uma carreira em terras ianques. Com essa falta de artistas nacionais, os intérpretes estrangeiros se tornaram excelentes vendedores de discos. Elvis Presley estava no início de sua trajetória e começaram a surgir os primeiros fãs brasileiros do cantor. Além de Elvis, Little Richard, The Platters e Chuck Berry eram outros roqueiros que davam o ar da graça nas lojas de discos.

O ano de 1956 também marcou a estreia nos cinemas paulistanos, do filme Ao Balanço das Horas (no original, Rock Around the Clock), estrelado por Bill Haley & Seus Cometas, Allan Freed, The Platters e Eddie Bell, que aproveitou o título do hit que arrebatou a moçada no ano anterior. Os jovens brasileiros começavam a imitar os teen-agers americanos em suas roupas e modos. Os meninos usavam jaquetas de couro, calças jeans com a barra dobrada, camisas xadrez, cabelos com topetes penteados usando gomalina. As meninas com vestidos típicos e cabelos rabo-de-cavalo. Todos mascando muitos bubblegums (ou chicletes de bola, como ficaram conhecidos por aqui).

Começaram a surgir relatos de tumultos provocados por expectadores do filme, que subiam nas poltronas para gritar e dançar e formalizar verdadeiros quebra-quebras. Isso deu uma publicidade grande para o filme e preocupação para as autoridades locais. Consta que Jânio Quadros, então governador do Estado, teria expedido ordem expressa para prender os arruaceiros e se fossem menores de idade, deveriam ser entregues ao Juizado de Menores. O Rock começava a preocupar os pais dos jovens e começou a ser duramente criticado pelos mais conservadores, sendo chamado de vulgar e contra os bons costumes.

Nora Ney, a primeira artista brasileira a interpretar um Rock

Nora Ney, a primeira artista brasileira a interpretar um Rock

Wikipedia

Ensaio: Os Primórdios do Rock no Brasil por Andre de Oliveira

Rock Brasileiro 1955-65: trajetórias, personagens e discografia por Albert Pavão

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Brazilian Rock and Roll Hall of Fame: Ronnie Cord, finale

Em 1964, Ronnie sentiu o gosto da consagração nacional ao lançar Rua Augusta, composição de seu pai Hervê Cordovil, um grande sucesso e um dos hinos do Rock and Roll, que foi a primeira música a ter problemas com a censura. No ano seguinte, veio outro grande sucesso, Biquini de Bolinha Amarelinha, versão de Hervê para Itsy Bitsy Teenie Weenie Yellow Polkadot Bikini, que foi cantada com sucesso por Ronnie em 1960. O cantor foi lembrado no clássico de Erasmo Carlos, Festa de Arromba e se tornou presença constante no programa Jovem Guarda. No mesmo ano, formou o conjunto The Cords com os irmãos Norman Cordovil e Hervê Jr.

Em 1967, gravou mais um single com versões com as músicas Só Eu e Você (There’s a Kind of Hush, versão) e Felizes Juntinhos (Happy Together, versão). Passou a gravar outros ritmos além do Rock, mostrando sua versatilidade musical. o single que inaugura essa nova fase é Mulher e Meia (marcha rancho composta por Hervê Cordovil e Manoel Vitório)/Luciana. Participou da gravação do single Junto a Mim (Redinger-Kelly, versão Newton Miranda)/ Agora Sou Tão Infeliz  (Programa Infeliz)  (Norma) de Norman & Norma (dupla que seu irmão havia integrado naquele ano).

Em 1968, gravou os compactos O Jogo do Simão (versão de Simon Says)/Se Você GostaSonho de Amor       (Tyson, versão Palavino)/ Por Ser Jovem Demais  (Neil Diamond, versão Willy), esse último, um dueto com a cantora Cleide Alves. O cenário musical no Brasil havia mudado bastante naquele ano. O fim do programa Jovem Guarda fez com que o elenco e os músicos que lá se apresentavam (então órfãos) se adequassem a novas tendências que estavam em voga, como a Tropicália, músicas de festival e músicas românticas que acabaram se tornando precursoras do Som Brega da segunda metade dos anos 70.

Em 1969, Ronnie lançou seu derradeiro disco, o single M…de Mulher  (F…Comme Femme de Salvatore Adamo, versão Antônio Marcos)/ Eu Te Daria A Minha Vida  (Ronnie Cord-Norman Cord). Mas muita coisa que ele gravou acabou saindo em coletâneas lançadas nas décadas seguintes como sua versão para Sou Louco por Você de autoria da cantora Elizabeth e a marcha Um Brinde à Lua (Hervê Cordovil).

No ano seguinte, Ronnie Cord resolveu sair de cena definitivamente, mas a exemplo da amiga Cely Campelo, sempre voltou em eventos comemorativos da Jovem Guarda. Começou a trabalhar como publicitário, casou-se e teve três filhos. Em 1979, o pai e amigão de sempre “seo” Hervê se foi e no dia 6 de janeiro de 1986, Ronnie  também faleceu prematuramente, poucos dias antes de completar 43 anos e deixou uma triste lacuna no Rock and Roll brasileiro dos primórdios.

ronnie em família

Ronnie: um homem de família

Fontes:

Wikipedia

http://www.jovem-guarda.com/ronniecord.htm

http://memorialdafama.com/biografiasRZ/RonnieCord.html#38

http://cifrantiga3.blogspot.com.br/2006/04/ronnie-cord.html

Rock Brasileiro 1955-65 Trajetórias, personagens e discografia de Albert Pavão

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Brazilian Rock and Roll of Fame: Ronnie Cord, parte 2

Filho do compositor Hervê Cordovil, Ronnie Cord começou a aprender violão quando tinha apenas seis anos. Em 1959, fez um teste pela Copacabana Discos. Naquela época, o Rock brasileiro começava a assumir um caráter próprio e já tinha seus primeiros ídolos locais. Em 1960, Ronnie gravou EP’s, compactos e dois álbuns, alcançando o sucesso com sua versão de Itsy Bitsy Teenie Weenie Yellow Polkadot Bikini, que lhe valeu um Troféu Chico Viola. A partir do ano seguinte, também gravou outros trabalhos e em 1962 começou a cantar em português composições próprias e versões.

Em 1964, Ronnie gravou o disco que colocou seu nome de vez no Hall da Fama do Rock Brasileiro: Rua Augusta, cuja música título, cheia de expressões e gírias juvenis (legal, tremendão etc.), fora composta por seu pai, “seo” Hervê, que à época era um ” jovenzinho” no alto dos seus 50 anos recém completados (!!!). Foi o primeiro Rock nacional a ter problemas com a censura por causa da estrofe “Comigo não tem mais esse negócio de farda/ não paro o meu carro nem se for na esquina/ tirei a 130 a maior fina do guarda…“, que teve que ser cortada, ficando do jeito como a conhecemos. [N. do Ed. = naquele ano, tinha acontecido o famigerado Golpe Militar de 31 de março]. Além de Rua Augusta, o disco tem outros destaques como Veludo Azul (Blue Velvet de Wayne-Morris, versão de Fred Jorge), Sílvia (Silvie de Mouted-Chabrier, versão Juvenal Fernandes), e Brotinho Difícil (Ronnie Cord). Ronnie volta a cantar em inglês em Hippy Hippy Shake (Chan Romero) e My Bonnie (tradicional, com adaptação de Mary Smith), que foram, respectivamente, lado B do single Boliche Legal (Hervê Cordovil) e Lado A com Eu e o Luar  (Ronnie Cord) no verso. 

Em 1965, veio outro estrondoso sucesso da carreira do cantor: Biquini de Bolinha Amarelinha, versão de Hervê Cordovil para Itsy Bitsy Teenie Weenie Yeallow Polkadot Bikini, música com a qual Ronnie fez sucesso em 1960. Lançou o single Amor Perdoa-Me  (Amore Scusami de Pallavicini-Mescoli, versão Júlio Nagib)/ Eu Vou à Praia (Hervê Cordovil) e mais um EP com as músicas A Força do Destino (Rossi-Antartide, versão Ronnie Cord), Giorno Grigio (Ronnie Cord-Ana Maria), Humildemente Te Peço Perdão (Vianello-M.R.-Murilo), e Loddy-Lo (Mann-Apple, versão Juvenal Fernandes), também lançadas em compacto simples.

Nesse ano, o colega cantor Erasmo Carlos lançou o retumbante clássico Festa de Arromba (de sua autoria), fazendo uma homenagem aos grandes nomes da cena roqueira da época. Claro que Ronnie não foi esquecido (“E Logo que cheguei notei, Ronnie Cord com um copo na mão…”). Como era um dos artistas de destaque na época, Ronnie chegou a ser cogitado para ser um dos apresentadores do programa de TV Jovem Guarda (embora nunca tenha sido feito um convite formal), lançado em 1965, que se tornou uma referência do Rock brasileiro dos anos 60. O cantor se tornou atração recorrente do programa em 1965 e 1966.

Formou o conjunto The Cords com os irmãos Norman Cordovil e Hervê Jr. e aproveitando a onda de versões de músicas dos Beatles, eles gravaram o single Todo Meu Amor (versão do clássico All My Loving) com Escândalo na Família (versão de Shame and Scandal in the Family de Donaldson-Brown, versão Fred Jorge) no verso, música quer foi um sucesso com Renato & Seus Blue Caps. Em 1966, Ronnie gravou sozinho o single Eu, a Noite e Ninguém (Ronnie Cord, Fred Jorge)/ Disco Voador (Ronnie Cord) e com os irmãos gravou o EP com as músicas  Há Uma Estranha Expressão Nos Teus Olhos (versão de Antônio Mojica), Escuta no Vento (versão de Norman Cordovil), Girl (Lennon/McCartney, um clássico dos Beatles) e Dia Lindo (Monday, Monday de John Philips, sucesso do The Mamas & The Papas com versão de Norman Cordovil).

ronnie cord e aguilar

Reconhecimento: Ronnie Cord, cercado por seu fã clube, recebe prêmio das mãos do apresentador Antônio Aguillar

Conclui no próximo post

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Gêneses do Rock Brasileiro: Introdução

“O Rock and Roll chegou para ficar”. Assim diz um clássico do grupo vocal Danny & The Juniors exaltando o Rock. A Primeira Onda tomou conta do planeta e o Brasil não foi indiferente a essa revolução. A partir deste post, começa a série Gêneses do Rock Brasileiro, tratando das primeiras décadas de existência desse rítmo quase sessentão.

Historicamente, o Brasil sempre foi receptivo às manifestações culturais externas. Desde sua colonização, diversos estilos musicais aqui deram o ar da graça e até contribuíram para o desenvolvimento da musicalidade própria. Para cá vieram as músicas folclóricas de Portugal, as valsas vienenses, a sonoridade barroca e os ritmos africanos. Nasceram assim, o chorinho, os lundus, as congadas, os reisados e o estilo musical que é marca registrada no País, o Samba, que também se desdobrou em vários subgêneros no século XX, como as marchinhas carnavalescas e o samba-canção, também chamado “dor de cotovelo”.

Quando os EUA começaram a sua política da boa vizinhança junto aos países da América Latina lá pelos idos dos anos 40, em plena Segunda Guerra Mundial, o Brasil tornou-se então consumidor da Indústria Cultural norte americana, algo que os nacionalistas mais convictos, opositores da influência da Pax Americana, chamavam de “Imperialismo Ianque”Um dos primeiros produtos da Indústria Cultural, aqui absorvidos, foi o cinema. Hollywood 

já era considerada à época, a capital mundial da Sétima Arte. Graças a isso, o Brasil viu surgir a gloriosa cena dos Estúdios da Compahia Cinematográfica Atlântida com as primeiras grandes estrelas nacionais como a dupla Oscarito e Grande Otelo, Eliana Macedo, entre outros. No campo da música, o Fox-trot e o Swing das chamadas Big Bands fizeram seu dèbut em terras brasileiras, embora não houvesse intérpretes nacionais. As Histórias em Quadrinhos também marcaram presença junto ao público infanto-juvenil.

Em 1955, aconteceu nos EUA o surgimento do Rock and Roll, que nada mais era do que a música que os negros já tocavam e dançavam desde o fim dos anos 40, chamada de Rhythm and Blues, uma variação do Blues um pouco mais pulsante e dançante, com letras consideradas ofensivas e imorais para os padrões da época. Anos antes, o disc jockey Allan Freed havia se encarregado de rebatizar o estilo como Rock and Roll, a fim de escapar dos pais conservadores e mais exaltados.

A partir de filmes como “Juventude Transviada” e “Vidas Amargas”, os mais jovens passaram a ter em James Dean, figura com pose de rebelde, seu ídolo. Outro filme que praticamente arrebatou os corações da juventude norte americana foi “Sementes da Violência” (“Blackboard Jungle” no original), que tinha como temática o embate entre um professor e seus alunos indisciplinados. O plot da película ficava em segundo plano, pois os rapazes e moças queriam mesmo era ouvir a música que tocava no fim dos créditos, “Rock Around the Clock”, música tocada por Bill Haley e seus Cometas que fez um fenomenal sucesso em todo o país, fazendo surgir assim, a Primeira Onda do Rock.

Haley apenas preparou caminho para o verdadeiro furacão que iria arrasar o continente: Elvis Presley. Foi a partir de sua figura jovem e dançante e sua voz forjada no sentimento da música negra que o Rock marcou sua presença, inaugurando de vez a Primeira Onda. Na esteira dele, vieram outros ídolos da molecada: Chuck Berry, Buddy Holly, Jerry Lee Lewis, Eddie Cochran, entre muitos outros. O Rock acabou se tornando um vantajoso produto da Indústria Cultural e logo começou a ser irradiado ao Velho Continente e à América Latina, chegando ao Brasil.

Blackboard jungle

Sementes da Violência: filme cuja trilha sonora iniciou a Primeira Onda do Rock

Fontes:

Wikipedia

Ensaio: Os Primórdios do Rock no Brasil por Andre de Oliveira

Rock Brasileiro 1955-65: trajetórias, personagens e discografia por Albert Pavão

 

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